terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Anvisa discute uso medicamentos que contêm sibutramina

Publicada em 16/02/2011 às 13h07m

Antônio Marinho


RIO - A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em Brasília, de realizar na próxima quarta-feira, dia 23, uma audiência pública para discutir o cancelamento do registro de medicamentos que contêm sibutramina, está tirando o sono de endocrinologistas e pacientes. A droga ajuda a reduzir o peso ao aumentar a sensação da saciedade e inibir a fome. Com a retirada do medicamento do mercado, medida já tomada no ano passado na Europa e nos Estados Unidos, a única opção de droga para emagrecer será o orlistat, o Xenical - a Anvisa também quer proibir os anorexígenos anfetamínicos anfepramona, femproporex e mazindol. Segundo os médicos, o orlistat contribui pouco para evitar a obesidade, ao reduzir a absorção de até 30% de toda gordura consumida.



A sibutramina geralmente é receitada para pacientes com índice de massa corporal (o IMC, calculado dividindo o peso em quilograma pela altura ao quadrado, em metro) acima de 30 e/ou de 25 mas portador de outras doenças, como o diabetes. Estima-se que pelo menos 5 milhões de brasileiros precisam do remédio. Antes das restrições e da suspensão da droga em outros países, cerca de um milhão de brasileiros usavam regularmente a sibutramina.



Um dos motivos que levaram as autoridades europeias e americanas a recomendarem a suspensão da sibutramina foi o resultado do estudo chamado SCOUT (sigla de Sibutramine Cardiovascular Outcome Trial), publicado na revista "New England Journal of Medicine". Ele avaliou possíveis benefícios da sibutramina no auxílio à perda de peso, em pacientes portadores de doenças cardiovasculares prévias, para quem a própria bula do produto contra-indica a prescrição.



Essa pesquisa clínica acompanhou cerca de dez mil pacientes em 16 países e os dados indicaram que houve um aumento de 16% de risco de complicações cardiovasculares no grupo que usou sibutramina. A Anvisa diz que também está levando em conta o parecer da Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme) de 26 de outubro de 2010. Nesse documento, o órgão recomenda o cancelamento dos medicamentos por apresentarem riscos que superam os seus benefícios.



Ainda segundo a Anvisa "a sibutramina tem baixo coeficiente de efetividade de redução de peso e pouca manutenção de perda em longo prazo. Além disso, estudos indicam o possível aumento de risco cardiovascular entre todos os usuários". E acrescenta que "os medicamentos anorexígenos anfepramona, femproporex e mazindol, por sua vez, apresentam graves riscos cardiopulmonares e do sistema nervoso central. Esses fatores tornam insustentável a permanência destes produtos no mercado, mesmo se forem consideradas as melhorias já implantadas no processo de controle da venda destes medicamentos". E, portanto, a Anvisa não vê justificativa para a prescrição e venda desses produtos no país.



Na audiência da próxima quarta-feira não se espera nenhuma decisão definitiva, mas a tendência é que a sibutramina seja mesmo retirada do mercado brasileiro, acredita o endocrinologista Walmir Coutinho, ex-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). Segundo o médico, o fim da sibutramina vai piorar a qualidade de vida de milhares de pacientes brasileiros. Ele foi um dos oito coordenadores do estudo SCOUT no mundo e afirma que os resultados não deveriam ser decisivos para o cancelamento do remédio; que durante o estudo proporcionou uma perda média de 3kg a 5kg. Na investigação, realizada de 2002 a 2009, nos pacientes sem doença cardiovascular, a sibutramina não pareceu aumentar os riscos de complicações.



- O estudo indicou um maior risco de problemas cardiovasculares em idosos, um grupo que geralmente tem outras doenças, além da obesidade. A pesquisa mostrou aumento de derrames não fatais. E o perigo de danos cardiovasculares foi observado em pessoas que, mesmo sem maiores benefícios, continuaram tomando a sibutramina. A própria bula do medicamento alerta para a possibilidade de eventos cardiovasculares - comenta Coutinho, presidente eleito da Associação Internacional para Estudo da Obesidade (IASO, na sigla em inglês).



Segundo o médico, mesmo tendo aumentado em 16% o risco de problemas cardiovasculares, a taxa de eventos foi considerada baixa e não houve qualquer aumento de mortalidade. Ele afirma que com a retirada da sibutramina podem ocorrer duas situações:



- Sem opção de medicamento, milhares de pessoas hoje em tratamento e com seu peso controlado vão voltar a engordar. Outros podem começar a usar, até por conta própria, remédios de outras classes, como alguns antidepressivos, que proporcionam algum emagrecimento. Sabemos que só a dieta e prática de exercícios sozinhos não resolvem boa parte dos casos. É claro que tem muita gente tomando sibutramina sem necessidade, mas isso não justifica retirar a droga e não deixar qualquer opção. É desumano - diz Coutinho.
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